Há um ano escrevi assim. Nem eu imaginava o quanto ainda me ia custar. O quanto me custa, tantas vezes, todos os dias. Porque hoje como há um ano dói: dói mais (muito mais) que aquilo que eu queria, que aquilo que devia ou que aquilo que podia.A vida gosta muitas vezes de nos pôr à prova. Sei que não posso querer ou gostar mas quero (sem querer). Sei que nunca poderá ser mas quero que seja (sem querer). Sei que tenho que fugir mas só consigo ficar. Sei que tenho que desligar mas não consigo. Sei que tenho que acabar com esta parvoíce mas não consigo ter força. Sei que é tudo um devaneio irracional mas não consigo acabar com ele. Sei que não seria bom para mim mas isso não muda nada. Sei que é um nunca-nunca mas queria (sem querer) que fosse um para sempre. Sei que não é real mas muitas vezes os sonhos são uma tábua de salvação, e sei ainda melhor que é tudo uma ilusão. Sei o que a razão diz mas o coração às vezes também quer mandar. Sei que não é possível mas vai tudo muito para além da sabedoria. Sei que não tenho a certeza do que quero mas também sei que me sinto demasiado feliz para ser verdade com certas presenças e conversas. Sei que há imagens que são impossíveis por todas as razões do mundo, mas não consigo deixar de as visualizar em momentos de dor e de as ter como força para continuar, mesmo que irreais. Sei que nunca acontecerá mas não consigo deixar de imaginar e ver o que poderia acontecer. Sei que nunca haverá uma infinita parte de tudo o que já vi e quis viver em sonhos, mas nem isso chega par acabar com este devaneio. Sei que seria tudo demasiado perfeito e irreal para ser verdade, mas isso também não muda nada. Nada muda nada porque haverá sempre um oceano de pessoas, diferenças e 1001 outras coisas a separar-nos. Porque haverá sempre infinitas razões para que nada aconteça. Porque será sempre muito mais fácil ir andando, cada qual consigo próprio ou com quem for calhando. E será assim, como tem sido, e nunca teremos coragem para fazer algo acontecer. Eu porque terei sempre um medo aterrador que me vai sempre paralisar. Tu porque estás a quilómetros de distância de imaginar o que quer que seja sobre isto. E assim ficaremos (talvez) sempre aquém de nós. Resta-nos sermos um com o outro as pessoas possíveis. Resta-nos termos um com o outro a ligação possível. Resta-nos as conversas e pensamentos únicos que só em conjunto conseguimos ter. Resta-nos sermos, cada um, as pessoas possíveis para o outro. Ficaremos mesmo aquém de nós mesmos e talvez um dia nada doa. Talvez um dia isto seja só uma ténue recordação por entre uma vida completa e feliz, vida essa a que assistirás do lado de fora. Talvez. Por agora dói - mais que o que devia, mais que o que queria, mais que o que podia. No passado foi doendo. No futuro talvez vá deixando de doer. Mas dói e dói agora. E agora só me resta ir vendo e vivendo. Cada um de nós ficará sempre do lado de fora da vida do outro e as imagens demasiado felizes e irreais talvez sejam só isso mesmo, um sonho. Ou talvez tenham apenas outros protagonistas e venham a ser reais. Seremos os amigos possíveis. Com a certeza de que poderíamos ser muito mais. Aquele mais que doeu e dói. E não devia. Mas eu nunca poderei estar perto do que vai nessa cabeça e nesse coração (ou não quero) e tu nunca conseguirás sequer imaginar uma ínfima parte daquilo que me está no coração (e que a razão quer destruir). Ainda que aquém de nós mesmos, talvez cada um de nós se vá conseguindo superar à sua maneira. Seremos sempre os amigos possíveis... Ou talvez um dia nem isso. Por agora e nos próximos tempos (e sempre) estaremos sempre longe demais. E doeu. E dói. E vai doer. E é sempre longe demais."