Á DERIVA
Á DERIVA

Tudo à minha volta se desmoronou. Deixei de ter um porto seguro. E, pior, os caminhos que percorro não me trazem qualquer conforto.Tudo o que antigamente fazia sentido na minha vida, ou me dava prazer, deixou de me trazer qualquer tipo de satisfação. E, por muito que as pessoas queiram confortar-me e ajudar-me, estar com quem quer que seja, sabendo que nenhuma delas és tu, só me traz mais sofrimento. Os amigos olham para mim com aquela "pena" e com palavras que pensam ajudar-me... mas não me ajudam. Pior é olhar para casais amigos! Ver a felicidade deles e saber que até há pouco tempo eu sentia-me mais feliz que todos eles juntos. Agora não consigo ver duas pessoas a trocar um olhar de cumplicidade que algo se espeta em mim. Que a amorfidade em que me tornei vem ao de cima e um tumulto de emoções se apodera de mim.Por muito que queira deixar-te perceber sozinha o erro que cometeste, é-me muito complicado resistir à tentação de falar contigo. Saber como estás, saber o que sentes. Seja porque estou ao computador e, inevitavelmente, acabo por passar por pastas onde estão fotos tuas ou de memórias partilhadas a dois. Seja porque não posso abrir qualquer programa ou rede social que a tua invisível presença rapidamente se torna um peso nos meus ombros. Como deixar ir? Como resolver isto? E, pior ainda, quando? A urgência que a minha mente sente em se livrar deste pânico emocional leva-me ao desespero a cada minuto de cada dia.Sim, porque nós não éramos só amor! Nós éramos muito mais que isso! Nós éramos um círculo completo que eu achava ser fantástico. Éramos cúmplices em tudo, éramos melhores amigos, éramos apaixonados um pelo outro, éramos fantásticos colegas, éramos a intimidade em forma de vida... éramos, éramos, éramos! Nunca a conjugação de um tempo verbal foi tão difícil. Nós éramos tudo isto e muito mais! E era bom, tão bom... ou eu assim pensava. Pensava que te conhecia, e também essa desilusão me dói muito. E ainda assim não consigo deixar-te sair da minha vida, porque sei que consigo lidar bem com o voltar a conhecer-te, pois isso seria sinal que estaria contigo! Tenho apenas dificuldade em perceber algumas das coisas que disseste e reacções que tiveste... Mas eu aceito-te como és. Porque por muito que gostasse de te odiar pela dor que me estás a causar, não consigo.Nem escrever estas palavras me ajudou. Porque quero muito que leias isto. Quero que continues a conhecer-me e a perceber exactamente o que me vai na alma, ainda que eu próprio não ache que seja claro. Para não falar da sua volatilidade, pois todas estas linhas podem amanhã já não ser verdade, seja para pior ou melhor. Quero-me ir embora. Quero ficar. Quero trabalhar. Quero descansar. Quero tudo. Não quero nada